A contribuição da sistematização de experiências para a constituição da educadora ambiental popular
Autor: Lucia Regina Nobre (Currículo Lattes)
Resumo
Esta tese busca sistematizar e refletir criticamente sobre a experiência de mais de quinze anos de atuação da autora como extensionista, pesquisadora e educadora ambiental popular no Núcleo de Desenvolvimento Social e Econômico (NUDESE), da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), tendo como objetivo refletir sobre a construção de um perfil de educador ambiental popular que atue junto a empreendimentos de economia solidária. A pesquisa parte da compreensão de que a sistematização de experiências constitui uma prática teórico-metodológica potente para a produção de conhecimento situado, crítico e transformador, especialmente no âmbito da Educação Ambiental Crítica e da Economia Popular Solidária. Inspirada na metodologia proposta por Oscar Jara Holliday, a sistematização é concebida como práxis, articulando ação e reflexão, teoria e prática, na busca por compreender os sentidos e contradições das experiências vividas. Nesse processo, são mobilizados os fundamentos da pedagogia de Paulo Freire e da filosofia da práxis de Adolfo Sánchez Vázquez, que orientam uma concepção dialética de conhecimento, em que sujeito e objeto não estão separados, mas implicados mutuamente na transformação da realidade. A tese está estruturada a partir da escrita de uma carta pedagógica destinada à futura sucessora na coordenação do NUDESE, instrumento escolhido por sua força narrativa, formativa e política. A carta organiza a memória institucional do núcleo, ao mesmo tempo em que problematiza os caminhos percorridos, as decisões tomadas, os desafios enfrentados e as aprendizagens construídas ao longo do processo de incubação, formação e assessoria a empreendimentos econômicos. São discutidas, ao longo do trabalho, as contribuições da Educação Ambiental Crítica para a construção de uma economia orientada por princípios de justiça socioambiental, cooperação, equidade e emancipação. O texto evidencia que não se trata apenas de formar sujeitos técnicos ou produtivos, mas sim de contribuir para o fortalecimento de sujeitos políticos capazes de se reconhecerem como protagonistas de processos coletivos e transformadores. A práxis da educadora ambiental popular, nesse contexto, é tomada como chave analítica para compreender como se constroi, no cotidiano da extensão universitária, um outro modo de fazer educação, pesquisa e intervenção social. A sistematização realizada também permitiu observar a potência da extensão universitária quando vinculada à práxis popular, à construção coletiva do conhecimento e à crítica aos modelos hegemônicos de desenvolvimento. Ao reconhecer a pluralidade de saberes e valorizar a escuta, o diálogo e o compromisso ético-político com os grupos acompanhados, a experiência relatada aponta caminhos para uma universidade que se compromete com a transformação social e com a construção de alternativas ao capitalismo. Por fim, a tese defende que a sistematização, a pesquisa e a avaliação devem ser concebidas como práticas indissociáveis na produção de conhecimento emancipatório. Através da reconstrução reflexiva do vivido, é possível não apenas aprender com a experiência, mas também ressignificá-la, projetando novos horizontes para a atuação extensionista e para a formação de educadores ambientais populares comprometidos com a construção de uma outra economia e de uma nova sociedade.