Tese - Cintia Gruppelli da Silva

Cartografando olhares e relações com a natureza nas praças, para pensar educações ambientais outras, a partir da filosofia e da experiência estética

Autor: Cintia Gruppelli da Silva (Currículo Lattes)

Resumo

Pensando nas cidades como máquinas que produzem certa subjetividade capitalística (GUATTARI, 1992), e nas transformações das paisagens provocadas pelas ruínas do Antropoceno (TSING, 2019), a presente pesquisa se aproxima das praças - pedaços de natureza domesticados na urbanidade de nosso cotidiano. O estudo provém de uma tese que faz parte do Programa de Pós-graduação em Educação Ambiental (FURG), na Linha de Pesquisa de Fundamentos em EA (FEA). A partir do método cartográfico (DELEUZE; GUATTARI, 1995; KASTRUP et al., 2020; ROLNIK, 2016) e na companhia de autores da Filosofia da Diferença, e tantos outros, o objetivo principal da investigação foi problematizar: quais as possibilidades de pensar, junto à filosofia, nossas relações com a natureza e com a educação ambiental nos encontros e desencontros na praça? Na tentativa de responder a essa questão, recorreu-se às pessoas que circulavam por três praças da cidade de Pelotas/RS, no intuito de mapear pensamentos, reverberações, ruídos, imagens fotográficas, tudo aquilo que pedisse passagem sobre as relações com a natureza, a fim de, talvez, potencializar educações ambientais outras. A intenção foi abrir-se às experiências cartográficas e vivências nas praças, em um movimento de escuta e de olhar para o outro - humano e não humano - e para a própria pesquisadora, numa atitude de abertura à experiência estética, ou seja, deixando-se levar pelos deslocamentos provocados dos encontros entre a arte e a vida que aparecem ao longo da escrita. As narrativas produzidas nas praças indicaram modos e estilos de vida que marcam o cotidiano dos/das praceantes. São discursos que reverberaram uma maneira romântica de enxergar a praça e a natureza presente nela, em que é possível encontrar paz, tranquilidade, sol, refresco para a alma, descanso nos dias turbulentos etc. São sentidos de natureza que se repetem e são vividos em família, entre amigos, com as crianças, vizinhos, animais..., também propícios à socialidade e orientados por certo modo de se comportar nos espaços públicos. Percebeu-se que nos relatos há uma relação de afetos, uma sensibilidade narrada que exprime um sentimento de pertencimento e um enaltecimento pela natureza e elementos da praça. Entende-se que muitos desses olhares correspondem ao que fomos ensinados sobre o significado do que seja natureza e o que convém viver, ou não, nas praças, de acordo com uma subjetividade capitalística que quer domesticar nossas ações na cidade. Argumenta-se que é em um espaço entre que se produzem fissuras e pensamentos outros nessa relação, tensionando os modos de vida e possíveis aprendizados no viver com, apesar das contradições existentes nas praças. A partir da realização desse estudo, defende-se que ainda que existam discursos romantizados de natureza que constituem a todos nós, os encontros e desencontros na praça, junto da filosofia, possibilitam potencializar o pensamento e a criação de múltiplos olhares às nossas relações com a natureza, com a educação ambiental e com o outro, especialmente, quando escolhemos viver éticas e estéticas que oportunizem problematizar nossas relações com o outro, seja humano ou não, e consigo. Quem sabe esse estudo possibilite continuar encontrando nesses espaços das praças, socialidades e educações ambientais outras que nos ajudem a compor e a experimentar potências de vida em tempos de crise ambiental.

TEXTO COMPLETO

Palavras-chave: NaturezaPraçasSocialidadesEducação ambientalFilosofia da diferença