Por entre ruínas e percursos didático-pedagógicos : do olhar docente problematizador acerca dos livros didáticos de artes visuais, um caminhar entre meandros ambientais e sustentáveis
Autor: Jésica Hencke (Currículo Lattes)
Resumo
Essa é uma tese sobre os atravessamentos ambientais presente nos livros didáticos, mais precisamente acerca dos engendramentos e as relações de uma educação que enfatiza a educação para o desenvolvimento sustentável. Assumimos a tese de que os Livros Didáticos são elementos culturais, cuja constituição pode ser associada a um espaço estriado, que ocorre pela repetição, reincidência e valorização de discursos maiores (GALLO, 2016), os quais fazem circular determinadas verdades curriculares/educacionais/ambientais e sustentáveis. Em nosso estudo rastreamos enunciados e visibilidades que criam "efeitos de verdade" e demarcam o campo da educação ambiental no contexto da educação formal a partir dos Livros Didáticos de Artes Visuais - PNLD 2020, 2021, 2022 alicerçados na Base Nacional Comum Curricular do Ensino Fundamental (BRASIL, 2018). Nessa complexidade de caminhos, consideramos como nosso problema de pesquisa: Como a arte se faz ambiental? Qual(is) é(são) a(s) educação(ões) ambiental(is) e a educação para o desenvolvimento sustentável que perpassa(m) os livros didáticos de Artes Visuais dos anos finais do Ensino Fundamental (PNLD 2020)? Como são apresentadas as visibilidades e os enunciados ambientais nos livros didáticos de Artes dos anos finais do Ensino Fundamental? Quais "verdades ambientais e sustentáveis" circulam nesses materiais e se apresentam como substrato para a emergência de uma arte ambiental? Nosso objetivo foi percorrer os livros didáticos com um olhar artístico e criador que vê potência ambiental nas entrelinhas, nos entremeios, nas pequenas fissuras imagéticas que compõem o repertório didático e desta forma, não meramente descrever o que se vê e o que se lê, mas sim, analisar as propostas pedagógicas. Nosso movimento de escrita foi problematizador, trilhamos os caminhos da ciência régia alicerçada nas certezas didáticas à busca de uma ciência nômade que nos permite criar, ao movimentar nosso pensamento de maneira a problematizar as propostas didáticas abalizada pelo método A/r/tográfico. Realizamos uma leitura particular das propostas didáticas à luz da problematização como apresentada por Michel Foucault, compondo uma montagem interpretativa vinculando-a aos enunciados pedagógicos. A escrita que resultou dessa investigação é um emaranhado de relações, que cria fissuras, composta por múltiplos intercessores: gestos, cores, formas, texturas, cheiros, lugares, plantas, pesquisadores/as, filósofos/as, artistas, poetas, amigos/as e professores/as. Destacamos sua presença nas fissuras e rupturas de uma educação menor com Silvio Gallo; uma arte como estética, sensibilidade junto a Marli Meira; entre os espaços liso e estriado, a ciência nômade e régia de Gilles Deleuze e Félix Guattari; a força da problematização em Michel Foucault; a potência da educação ambiental com Paula Corrêa Henning; os estudos de Anna Tsing e seu conceito de ruínas e paisagem multiespécies; sem falar em Ailton Krenak ao propor "Ideias para adiar o fim do mundo", e Leônia a cidade invisível de Ítalo Calvino, bem como os inúmeros intercessores que ajudaram a percorrer os desafios deste caminhar, os pesquisadores/as-amigos/as do GEECAF - FURG. Nesse processo investigativo apreendemos que as propostas imagéticas são potentes ao processo de problematização e análise ambiental, entretanto, os enunciados didáticos não nos conduzem a provocações ambientais e estas ficam subsumidas a esterilidade de um discurso de desenvolvimento sustentável, enfatizando um fluxo de apagamento da educação ambiental.