(In)justiça alimentar como uma manifestação da (in)justiça ambiental : o processo educativo em programas e ações de combate à fome
Autor: Sinval Martins Farina (Currículo Lattes)
Resumo
O presente trabalho de tese defende que, ainda que seja válido o esforço de distribuição de alimentos para quem tem fome, para a construção da justiça alimentar, é necessário ir além, de maneira a se propor/elaborar/edificar processos educativos emancipatórios entre os que fornecem e os que recebem alimentos. Neste contexto, o objetivo geral da pesquisa foi investigar os limites e as possibilidades de processos educativos nos programas e ações de combate à fome de três entidades brasileiras: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Ação da Cidadania e Observatório Luciano Mendes de Almeida (OLMA). Quanto à metodologia realizamos levantamento bibliográfico e análise documental procurando analisar as três entidades. Fizemos um trabalho empírico realizado na periferia de Pelotas-RS, juntamente com o Observatório Luciano Mendes de Almeida e a Rede Solidária da Paróquia Nossa Senhora de Fátima. Para fazer análise desses dados confrontamos com os achados com outras literaturas, tais como, as da Rede PENSSAN e da Cátedra Josué de Castro. Em relação aos resultados, da CNBB constatamos que os processos educativos que a entidade se propôs a estabelecer com a igreja e a sociedade mais ampla atingiu sua meta devido ao alcance nacional da instituição. Como limite percebemos que, embora no texto base haja uma perspectiva bastante crítica com relação às estruturas sociais que levam a existência da fome, não há uma proposição clara para os processos educativos entre as pessoas que fornecem e as pessoas que recebem os alimentos, dentro das mais variadas ações de distribuição de alimentos da igreja. Com relação à Ação da Cidadania também há uma leitura bastante crítica e fundamentada no que se refere às causas estruturais da fome, denunciando as políticas públicas extintas nos últimos governos. Além disso, nossa pesquisa revelou que a entidade possui uma rede de mobilização através de comitês locais que fortalecem os CONSEAs municipais e estaduais de várias localidades do país, assim como lutam por necessidades básicas nas comunidades onde estão inseridos. Outro limite é a insuficiência do alcance das ações diante do tamanho da injustiça alimentar no país. No trabalho realizado pela Rede Solidária de Combate à Fome da Paróquia Nossa Senhora de Fátima em Pelotas - com o apoio do OLMA - percebemos como vitoriosa a problematização feita pela Rede entre o que é assistência e o que é assistencialismo, dentro dos vários eventos realizados, tanto com parte das famílias beneficiadas, quanto com setores mais amplos da igreja na cidade. Porém não conseguimos dar continuidade ao trabalho no momento em que se propunha criar um grupo de geração de renda. Conclui-se neste trabalho que a Insegurança Alimentar (IA) é um conflito em potencial, a partir do qual a distribuição de alimentos pode ser tanto para contribuir com o silêncio quanto, diversamente, para a superação do assistencialismo. Caso se restrinja apenas a distribuir alimentos, sem a discussão de tais ações ou a construção de processos alternativos, ainda assim tem o seu valor ao amenizar a dor de outro ser humano. Mas para a construção da justiça alimentar, que é uma manifestação da justiça socioambiental, é preciso ir além. Ou seja, indignar-se, problematizar de forma interdisciplinar as estruturas sociais, políticas e econômicas que causam a fome e buscar construir saídas de caráter emancipatório, preservando a vida e a biodiversidade em todas as suas dimensões.