Participação e construção de feiras de agricultura familiar, economia solidária e agroecologia : entre práticas cotidianas e a formação em Educação Ambiental
Autor: Gisleine Cruz Portugal (Currículo Lattes)
Resumo
As feiras são manifestações culturais promovidas com o intuito de escoar o excedente de produção de famílias rurais, bem como artesanato e alimentos minimamente processados, representando elementos da cultura local de uma determinada região. Elas funcionam como um espaço de encontro dinâmico e rico em interações onde, além de ser um espaço de compra e venda, funcionam como um lugar onde se constroem relações diversas, representando um potencial de aprendizagem, reflexão e questionamento para os sujeitos que ali convivem. Uma das justificativas para a realização deste trabalho, que o torna inovador é o fato de ainda ser pouco explorada tais relações a partir da perspectiva da Educação Ambiental, ou seja, um recorte que busque investigar aspectos relativos à construção de questionamentos sobre nosso modelo de sociedade capitalista devastador. A realização deste estudo tem como objetivo geral analisar como ocorrem as trocas de saberes, aprendizagens e experiências relacionadas à Educação Ambiental nos espaços coletivos de construção de feiras no município de Viçosa-MG. Trago os resultados de uma pesquisa participante na realidade de três feiras de agricultura familiar ao longo de um ano de pesquisa, agroecologia e economia solidária na cidade de Viçosa, com registros em um diário de campo, complementados pela análise documental de Atas de Assembleias e Atas de reuniões, além de entrevistas narrativas com 23 feirantes. O que foi possível observar nas feiras é que o potencial do diálogo enquanto processo educativo se faz a partir do concreto, que mobiliza reflexões e questionamentos das problemáticas vividas, de forma que existem espaços onde estes podem ser mobilizados e acolhidos na coletividade das reuniões e assembleias. Os atores envolvidos com as feiras conseguem afirmar interesses individuais, transformando-os em projetos coletivos, significando o restabelecimento de uma utopia compartilhada. Assim, foi possível constatar que o processo de organização, participação, e comercialização nas feiras estudadas possuem a potencialidade de ser um movimento social político, organizado, que questiona o modelo hegemônico de injustiça ambiental e social, podendo também se configurar enquanto espaço de construção da educação popular. Então, podemos perceber que o processo constante de ação-reflexão-ação configura a construção de conhecimentos pautando a temática ambiental, com suas nuances políticas, sociais, culturais e econômicas.